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Degelo na Antártica gera buraco subterrâneo gigante — e isso não é bom
São Paulo – Um buraco gigantesco, com dois
terços da área do distrito americano de Manhattan e quase 300 metros de
altura (equivalente a da Torre Eiffel), está se abrindo debaixo do
Glaciar Thwaites, o maior da Antártica. A descoberta relatada em um novo estudo liderado pela agência espacial dos Estados Unidos (Nasa)
foi classificada como “perturbadora” pelos cientistas, que alertam para
os perigos do degelo subterrâneo no Polo Sul associado ao aquecimento global.
A península Antártica é
um dos lugares em aquecimento mais rápido no Planeta. As temperaturas
na costa oeste subiram cerca de 2,9 graus Celsius (ºC) nos últimos 60
anos, cerca de três vezes a média global, enquanto as temperaturas da
superfície do mar subiram mais de 1ºC.
O tamanho e a taxa de crescimento do novo buraco, no entanto, surpreenderam os pesquisadores da Nasa. Ele é grande
o suficiente para conter 14 bilhões de toneladas de gelo, e a maior
parte desse gelo derreteu nos últimos três anos. A cavidade gigantesca
encontra-se sob o tronco principal da geleira a oeste, o lado mais
distante da Península Antártica Ocidental.
A
descoberta é relevante porque a extensão da cavidade debaixo de uma
geleira influencia seu derretimento. Quanto mais calor e água sob a
geleira, mais rápido ela derrete, com implicações para o aumento do
nível do mar global.
Com
quase o tamanho da Flórida, nos EUA, o Glaciar Thwaites contém gelo
suficiente para elevar o oceano em pouco mais 65 centímetros e funciona
como um pivô na região, protegendo as volumosas geleiras vizinhas de se
desintegrarem e causarem um aumento adicional de 2,4 metros no nível do
mar.
Desequilíbrio
O estudo mostra como a borda
submarina do Glaciar, também chamada “linha de aterramento”, está
mudando. Ao representar o limite entre a geleira e seu apoio sobre o
leito marinho, a linha de aterramento é um indicador-chave da
instabilidade do manto de gelo, porque as mudanças em sua posição
refletem o desequilíbrio com o oceano circundante e afetam o fluxo do
gelo interno.
“Nós suspeitávamos há anos que a geleira Thwaites não estava fortemente ligada ao leito de rocha abaixo”, disse em comunicado
Eric Rignot, da Universidade da Califórnia, em Irvine, e do Laboratório
de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, Califórnia. Rignot é coautor
do estudo, publicado nesta semana na Science Advances. “Graças a uma
nova geração de satélites, podemos finalmente ver em detalhe”, disse
ele.
Registros desse processo são importantes para os cientistas avaliarem a escala do desequilíbrio. Desde 1992, a geleira
vem descolando de uma cordilheira no leito rochoso a uma taxa constante
de cerca de 0,6 a 0,8 km por ano. Apesar da taxa de recuo da linha de
terra ser considerada estável, a taxa de derretimento subterrâneo deste
lado da geleira é extremamente alta.
Segundo
os cientistas, essas diferenças enfatizam a natureza complexa da
instabilidade das camadas de gelo em todo o continente e a própria
relação gelo-oceano, destacando a necessidade de observações mais
detalhadas do que se passa abaixo das geleiras antárticas, e não apenas
na superfície, para entender os diferentes mecanismos de recuo e
calcular a rapidez com que o nível global do mar aumentará em resposta à
mudança climática.
No final de 2019, uma colaboração internacional, envolvendo a National Science Foundation dos EUA e o British National Environmental Research Council, do Reino Unido, iniciará um projeto de campo de cinco anos para responder às questões mais críticas sobre os processos e características do Glaciar de Thwaites em um mundo em aquecimento.
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